
Naquele dia viajávamos. Já não me lembro se o levava na maleta, mas, com certeza, no pensamento.
Ambos estacamos, o mesmo sorriso no rosto, a mesma cara de "Ai meu Deus!", só a cara!
O que você pensa disso, perguntei:
- Sabes que não penso - resumiu!
Eu sabia - claro que sabia - e apressei-me por reformular:
- O que você vê, ouve, ou cheira, então? - perguntei, sem disfarçar um certo sarcasmo!
- Vejo a água que cai, o barulho que faz, as pedras, e a água que corre aqui embaixo. Sinto o cheiro da vegetação!
Nada mais apropriado.
Mas como ele nada me perguntasse (como sempre não o fazia), adiantei-me em explicar o que eu via.
- Sabe o que eu vejo?
- ?
E eu me confundi para explicar que as águas turbulentas, cachoeira acima, eram a vida, seu orgulho e seus percalços; que a cachoeira representava uma grande queda, um grande tombo, para que a alma caísse na realidade e na humildade; que o estrondo era o barulho do dilema moral da alma que despenca de seu patamar ilusório, que o riacho, aqui abaixo, pelo qual caminhávamos, era a humildade, a serenidade, a paz de espírito, a felicidade que a alma alcança após despir-se do orgulho e do egoísmo...
- Essa é sua filosofia - retrucou o Alberto - Mas aí, não há filosofia, apenas a água cachoeira acima e cachoeira abaixo, e isso é real!
...
E continuamos os dois estacados, a mesmo sorriso no rosto, o mesma cara de "Ai meu Deus!", só a cara!
Gilberto de Almeida
23/08/2012
Amigos, hoje descambei para a prosa. Toda regra tem sua exceção! :)
ResponderExcluir