Estávamos eu e o Alberto sob a chuva.
Quebrando o silêncio íntimo em que nos submergira aquele marulhar de gotas estalando na relva, pensei no cuidado de Deus... Em como ele amava sua criação, como regava as plantas, saneava a atmosfera, reabastecia os rios, os lençóis freáticos... A chuva era a música da bondade de Deus, uma sinfonia cujos acordes tocavam o solo e molhavam os ouvidos com amor...
Alberto, em silêncio, braços estendidos como se desejasse ampliar a superfície do corpo para receber cada gota de chuva, não se movia.
Depois de alguns instantes, ambos absortos naquele devaneio íntimo, meu amigo comentou:
- É muito bom quando a chuva bate no corpo. As gotas caem com uma força macia sobre a gente. Quase nada neste mundo cai com uma força macia sobre o corpo da gente...
Foi então que me dei conta de que a sinfonia molhada que eu escutava era também macia, uma sinfonia macia, molhada e generosa, de Deus...
E sob aquela percepção do Alberto, tão mais concreta e sensual que a minha, senti que tudo estava absolutamente correto, que a chuva era forte e macia, mas que também era chuva de amor Divino.
E esse entendimento - na verdade, essa certeza interior - me trazia paz. Imensa paz. Tão grande quanto as maneiras que existem de sentir a chuva. Tão grande quanto a liberdade de senti-la.
De fato, naqueles instantes em que a chuva forte já se fora e tudo que restava no mundo era uma tépida garoa, contentava-me saber que Deus permitia a cada um sentir e pensar como quisesse. Contentava-me saber que tudo estava certo.
E ali estávamos e ali ficamos, aos raios do sol que sempre vem após a chuvarada.
Gilberto de Almeida
09/01/2018
Semtimos grande afinidade com à água, somos quase anfíbios. Temos algo em torno de 65% desse líquido abençoado em nossa matéria, poderíamos até chamar de nossa irmã água. Quando vemos esse líquido maravilhoso transformado em esgoto ou lodo a Céu aberto é simplesmente triste e lamentável!!
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