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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A vida é uma ponte


Às vezes penso que a vida é uma ponte
que Deus construiu por bondade,
apenas para encurtar o caminho.

E o que me interessa
é não cair desta ponte
chegar ao outro lado
com dignidade!

Gilberto de Almeida
31/08/2012


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eu, Alberto e a Senhora Gorda

Eu e Alberto, após o almoço, no banco do parque, observávamos. Eu sentado; Alberto na maleta.
 
um ... dois ... três ... quatro ... – passa a senhora gorda. Acompanho com os olhos o seu trote lento.
 
Fiquei a devanear...  Quem sabe se essa mulher não fora bonita um dia? Se já não tinha tido dias em que fora admirada e elogiada por sua beleza, na juventude? O que será que acontecera? Que motivo íntimo teria levado aquela senhora a permitir que seu corpo ficasse daquele jeito? Melancolia, depressão, frustração...? Por que ela ficou desse jeito?
 
Alberto, que sempre ouve  meu pensamento, respondeu:
- Porque comeu, oras! Ou acaso existe outro caminho por onde os quilos entram no corpo?
 
Era.
 
Gilberto de Almeida
30/08/2012
 
 

Poemas Inconjuntos - VII

(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

Em toda floresta existe um gnomo!



Em toda floresta existe um gnomo
debaixo da ponte, na beira do rio,
de olhar penetrante, árduo, intenso e arredio.
 
Em toda floresta existe um gnomo
que cuida da mata e que escava os minérios,
que esconte os segredos, que guarda os mistérios.
 
Em toda floresta existe um gnomo...
Mas, quando passamos, o andar distraído,
e não lhe rendemos louvor merecido...
 
... em toda floresta existe um gnomo!
- melhor disfarçar, mas (quem diz?) nem sei como!
 
Gilberto de Almeida
30/08/2012
 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Abismo

(Fernando Pessoa)
 
Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando —
O que é sério, e correr?
O que é está-lo eu a ver?

Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco —
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo — eu e o mundo em redor —
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus...
E súbito encontro Deus.
 
 

Com Alberto, no Terminal Rodoviário do Tietê

No Terminal Rodoviário do Tietê,
estávamos eu e Alberto.

(Para quem não sabe, sempre levo o Alberto na maleta, ou então, no pensamento. Às vezes, quando ele me irrita, guardo-o no bolso!)

Passei por um casal de namorados, felizes, que sorriam.
Para mim a poesia era que os dois estavam sentados no chão gelado, e sorriam!
Ele com sua perna sobre a perna dela, e sorriam!

Mas como Alberto estava comigo, não pude deixar de perguntar sua opinião.
- você vê o casal de namorados felizes, sobre o chão frio?

Claro que não via. O que via então?
- Vejo o chão. Não sei que está frio.
- E vejo um jovem e uma jovem, e ele tem a perna sobre a perna dela. Não sei que são namorados.
- E vejo que sorriem.
- O que vejo é o que é. Mas você, que imagina as cousas, não vê a beleza do que é real!

Não sei por quê, mas não gostei de ouvir aquilo.
Sem dizer uma palavra, guardei o Alberto no bolso!

Gilberto de Almeida
29/08/2012

Poemas inconjuntos - VI

(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

Uma gargalhada de rapariga soa do ar da estrada.
Riu do que disse quem não vejo.
Lembro-me já que ouvi.
Mas se me falarem agora de uma gargalhada de rapariga da estrada,
Direi: não, os montes, as terras ao sol, o sol, a casa aqui.
E eu que só oiço o ruído calado do sangue que há na minha vida dos dois lados da cabeça.

Empréstimo

(Vicente Galeano)

Um jovem, tomado de paz,
dizia ter sido assaltado:
levaram do pobre rapaz
os ganhos escassos, coitado...;
dizia: - Deus sabe o que faz
e deve ter, sim, precisado
daquela quantia fugaz
que antes me havia emprestado!


Para que distas de mim?

 
 

 
Gilberto de Almeida
29/08/2012
 
 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Poesias da Vida - VIII

(Juliana Paula Landim)

Na copa vejo as pessoas mais.
Mais felizes, mais falantes, e também mais criticantes.
Faz parte!

E assim estavam todos
sorrisos.

Foi quando ela entrou
de salto,
bundão empinado (porque o salto deixa o bundão empinado)!

Mas ela entrou
de salto,
nariz empinado (o salto também deixa o nariz empinado?)!

Aquele olhar acinzentado fez da popuzuda o reflexo do descompasso!
E tudo na copa ficou menos,
e eu saí!

Seis haicais em Veneza


Beijo aquelas flores
que regam os que navegam
bêbados de amores.
 
Quem vai a Veneza
se rende, mas nunca entende
tamanha beleza!
 
Debaixo da ponte,
o beijo se faz desejo
dum outro horizonte...
 
Este meu carinho,
que rego, adubo e me entrego,
cruza o teu caminho...
 
Veneza é o preciso
cântico do amor romântico...
E exista juízo!
 
Meu poema, amor
- que nessa rua começa -
acaba onde for...
 
Gilberto de Almeida
28/08/2012
 
 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Poemas Inconjuntos - V

(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

Verdade, mentira, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza incerteza o que são?
O cego para na estrada.
Desliguei as mãos de cima do joelho
Verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade - os meus joelhos e as minhas mãos.
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem dada igual.
Ser real é isto.

Quisera...

(Vicente Galeano)

Quisera eu ser competente
e amenizar o teu dilema;
dizer-te, enfim: - não há problema
que não esteja tão somente
a perturbar a nossa mente
se ela o escuta; se é pequena!
Dizer-te:  - Deus - Vida Suprema! -
te quer feliz eternamente!


Abdicação

(Fernando Pessoa - Em "Cancioneiro")
 
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.




 

Com Alberto, ladeando o Tibre

 
Trago sempre o Alberto comigo, vocês sabem! Se não na maleta ou no bolso, pelo menos em pensamento.

E foi numa passagem por Roma, após uma noite boêmia que não tive, que, nos arredores do Vaticano, quando ladeávamos sem rumo, o rio Tibre, a aurora nos apontou o Castelo de Sant'Angelo.

Eu, que sempre me manifesto primeiro, e não deixo o Alberto falar, quebrei o Silêncio:

- Você imagina? Consegue pensar em quanta história já viveu este Castelo? E agora, sereno, aqui, nas margens do Tibre... Olha esse azul! Não é magnífico?

Alberto continuou calado!

- Tá bom, me diga o que você vê...

- Vejo o castelo, e o céu, e as luzes, e a ponte, e seus reflexos!

Mas eu queria mais. Apesar da pergunta, não queria que o Alberto me dissesse apenas o que estava vendo. O Alberto, que sempre falava pouco, estranhamente, sempre tinha muito a dizer.  Continuei insistindo:

- Ora, tudo bem! Mas não é de se pensar onde leva esta ponte? Ou onde já levou? Hoje é um museu, mas já foi um mausoléu, um castelo, até um anjo já apareceu sobre ela...

Meu amigo olhou pra mim com um olhar sereno de quem não pensava coisa alguma e simplesmente disse, como se tivesse pena de mim:

- A ponte não leva, nem nunca levou! Acaso vês alguém sobre ela agora? Quem ela está levando? Se existe uma ponte, meu amigo, isso só pode significar uma, e apenas uma cousa: é que existem dois lados!

E eu fiquei olhando para ele, surpreso!

Gilberto de Almeida
27/08/2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Poesias da Vida - VII

(Juliana Paula Landim)

Relacionamentos, tive vários,
e também várias separações,
e todas superei!

Às vezes fui rejeitada: doeu mais!
Às vezes rejeitei: doeu menos!

Mas a história não se repete.
Hoje tomei uma decisão
e decidido está!
E ainda dói no coração!
E, desta vez, não sei se ficarei bem!

A decisão foi minha,
nem quiz saber, nem ouvi o que diziam!

Mesmo porque se assim não fosse,
não me deixariam terminar.

Mesmo porque se eu não desse um basta,
esse relacionamento promíscuo deveria acabar mal!

Assim está melhor.
Me separei dos cartões de crédito.
De todos eles!
Ainda dói no coração,
Sei que vai demorar, mas ficarei bem!

Poesias da Vida - VI

(Juliana Paula Landim)

Quando eu estranhei a perfeição
daquele toque de celular
que imitava um sabiá,
me dei conta de que eu estava vivendo uma vida biônica!

Porque a verdade é que o celular estava mudo,
e o sabiá lá fora cantava!

Cena de fim de tarde


 
A cena de fim de tarde;
de certa forma ela esbanja
um doce aroma de mel...
 
E alguma irrealidade
ao se pintar de laranja
descendo branda do céu!
 
Gilberto de Almeida
26/08/2012


sábado, 25 de agosto de 2012

olho d'água

(Christiana Nóvoa)

meu olho vaza
;

foi um rio que passou
na sua casa

Veja também no site da autora: 
http://www.novoaemfolha.com/2012/08/olho-dagua.html

Poesias da Vida - V

(Juliana Paula Landim)

Eu apenas passava o tempo:
lia um livro,
na conveniência.

Nem reparei que outra cliente,
que já se ausentara da loja,
esquecera uma sacola.

A balconista saiu correndo e chamou a atenção da outra
para que havia esquecido!
E eu, atônita, me surpreendi,
por perceber que estava atônita e surpresa
com isso!

Pequenez












Estas silhuetas
minúsculas
desafiam seus medos;

todas divindades
maiúsculas
desvendando segredos!

Gilberto de Almeida
25/08/2012


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A gente vai Levando...

Falando bom russo,
como dizia o Chico,
aqui no Brasil,
de um jeito ou de outro,
todo mundo vai
levandowski.

Gilberto de Almeida
24¹08/2012

Poemas Inconjuntos - IV

(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)

Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te graça por nunca te ter visto antes,
E naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem aqui vinhas.
Brinca na poeira, brinca!
Aprecio a tua presença só com os olhos!
Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.

O modo como esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.
Brinca! pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.

O amor de verdade

(Vicente Galeano)

O amor divino, pleno e bento
que tem as bases na verdade
é a liga interna do cimento
que junta a parte à sua metade;
mas se esse amor é hostil, ciumento,
então é amor daninho, que há de
morrer de amor num só momento
mas não brilhar na eternidade!


Poesias da Vida - IV

(Juliana Paula Landim)

Contas a pagar
para mim, são assim:
- contas a apagar!
e com a batalhadora esperança
de o incêndio não voltar!

Abat-Jour

(Fernando Pessoa - Cancioneiro)
 
A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza

Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.

E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.

Bem sei... Era dia
E longe de aqui...
Quanto me sorria
O que nunca vi!

E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar...

 

Poesias da Vida - III

(Juliana Paula Landim)

Relógios são objetos!
Sem nenhum valor que não a sua utilidade em medir o tempo!
Algemas são diferentes,
mas às vezes parecem iguais!

Poesias da Vida - II

(Juliana Paula Landim)

Não me queixo da vida
e isto é o que eu sou:
- uma mulher de coragem
que ergue a cabeça para seguir
com humildade.

A lágrima de amor azul turquesa



Na busca do esplendor e da beleza,
o poeta implora e a natureza chora
a lágrima de amor azul turquesa!
 
Gilberto de Almeida
24/08/2012

 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Conversa de Pombo


- Do meu pescoço! Sai! O que tu fazes?
- Não faço nada: eu vim catar piolho...
  Quem sabe assim a gente faça as pazes!
- Mas não te quero: vê se abre o olho!

- Mas por que não? Em que tu te comprazes?
- Em ti? Não és do tipo que eu escolho.
  Por que não vais ciscar com os rapazes?
- Que tens? Irás deixar-me tu de molho?
  
Acaso sou pior que outro pombo?
- Não és! Mas eu bem sei o que tu queres!
- Que quero, então? Me diz! Sai do biombo!

- Ora! O que os pombos querem das mulheres!
- Assim não sou! Que foi? Levaste um tombo?
Resiste ou sê feliz! Qual tu preferes?

Gilberto de Almeida
23/08/2012


Passeando, com Alberto

Alberto é um amigo que sempre levo na maleta e, algumas vezes, no pensamento - ou o contrário.

Naquele dia viajávamos. Já não me lembro se o levava na maleta, mas, com certeza, no pensamento.

Ambos estacamos, o mesmo sorriso no rosto, a mesma cara de "Ai meu Deus!", só a cara!

O que você pensa disso, perguntei:
- Sabes que não penso - resumiu!

Eu sabia - claro que sabia - e apressei-me por reformular:
- O que você vê, ouve, ou cheira, então? - perguntei, sem disfarçar um certo sarcasmo!

- Vejo a água que cai, o barulho que faz, as pedras, e a água que corre aqui embaixo. Sinto o cheiro da vegetação!

Nada mais apropriado.

Mas como ele nada me perguntasse (como sempre não o fazia), adiantei-me em explicar o que eu via.

- Sabe o que eu vejo?
- ?

E eu me confundi para explicar que as águas turbulentas, cachoeira acima, eram a vida, seu orgulho e seus percalços; que a cachoeira representava uma grande queda, um grande tombo, para que a alma caísse na realidade e na humildade; que o estrondo era o barulho do dilema moral da alma que despenca de seu patamar ilusório, que o riacho, aqui abaixo, pelo qual caminhávamos, era a humildade, a serenidade, a paz de espírito, a felicidade que a alma alcança após despir-se do orgulho e do egoísmo...

- Essa é sua filosofia - retrucou o Alberto - Mas aí, não há filosofia, apenas a água cachoeira acima e cachoeira abaixo, e isso é real!

...

E continuamos os dois estacados, a mesmo sorriso no rosto, o mesma cara de "Ai meu Deus!", só a cara!

Gilberto de Almeida
23/08/2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Poesias da Vida - I

(Juliana Paula Landim)

Sinto-me feliz por trabalhar gripada.

É difícil respirar,
é difícil tomar atitude,
é dificil até raciocinar.

O nariz escorre,
não é romântico
e não estou bonita.

Mas sinto-me feliz por trabalhar gripada,

porque não é difícil ver
que eu consigo,

porque, além disso,
não é difícil viver
para aprender

e é só por estar gripada
que eu existo!

Amor de um certo estilo


Que a meu respeito digam sem pudor,
que digam que sou louco - estou tranquilo! -,
pois louco - cada louco a seu estilo -,
tão louco, é louco apenas quanto o for.

Loucuras faço e as faço no calor
do sentimento. E o louco... Eu? Impedi-lo?
Nem quero! E nem amargo com sigilo
a psique que a loucura quer expor!

E louco - novamente! -, faço aquilo
que os loucos fazem: - torno-me uma flor
que envio a ti por meio dum esquilo!

Mas peço: - não estranha o portador;
não tem, talvez, nem mais de meio quilo,
mas leva a ti, desnudo, o meu amor!  

Gilberto de Almeida
22/08/2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ternura



Esse temor de que a escuridão
não se toque pela ternura,
de que a ela não se apegue,
de que não consiga refletir a luz

sucumbe

ante a capacidade da ternura
de pairar, sem se alterar;
de se espalhar sem se perder;
de iluminar mantendo o próprio brilho.

Gilberto de Almeida
21/08/2012


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

De Dentro

(Clara Mantelli)

Nas dobras do meu lençol
Há muitos sonhos guardados...
Alguns brotaram silentes,
Da alma livre de poeta,

Com carinho aprisionados...

 
Amo o intenso
O Sol, a Lua Cheia
O amor imenso,
Que é neve, que é vulcão...
A inspiração,
A mente que clareia
O riso largo
O choro de emoção

 
 
Sou paulistana
Mistura bem fértil
De raças, gostos
Sangue bom, materna
Ó Terra minha,
O que de ti aflora,
A ânsia infinda
Que às mentes implora:
Decifra-me,
Ou te devoro as noites...
 
 

Olhar de esfinge



Há segredos nesse olhar
que me pedes decifrar...
Mas se, acaso, não decifro,
irás tu me devorar?

Gilberto de Almeida
20/07/2012

domingo, 19 de agosto de 2012

Estamos Aqui

Ilustração: Vânia Medeiros















(Raiça Bomfim)

entre
dois

palavra que se diga e ouça
silêncio em que dois corpos caibam

calma pra olhar
calma pra ser

mergulhar e emergir
dissolver os tempos
sepultar os mortos

o amor existe nas divisas

reforçar os laços
desatar os nós




Veja também no Blog da autora:
http://raibomfim.blogspot.com.br/2012/06/estamos-aqui.html

Cenas em um Shopping - III

Hoje fui ao Shopping,
mas não encontrei poesia alguma.

Talvez porque tudo estivesse do mesmo jeito:

- as mesmas roupas;
- as mesmas atitudes;
- os mesmos sorvetes descendo as escadas rolantes.

Acho que a única poesia que eu vi 
foi o rapaz que levava o lixo
e assobiava!

Gilberto de Almeida
19/08/2012

Duas escolhas para um mesmo haicai






















I

Do fundo do lago,
um beijo lá em cima eu vejo...
E está feito o estrago!

II

Do fundo do lago,
um beijo lá em cima eu vejo,
mas tenho o olhar vago...

Gilberto de Almeida
19/08/2012


sábado, 18 de agosto de 2012

Uma história de amor na Dinamarca



Na Dinamarca, certo dia,
nas altas torres do castelo,
o próprio Hamlet predizia:
- lá deve haver o amor mais belo!

O tio, zeloso, o prevenia:
- mas que loucura! Eu te apelo:
esquece a tola fantasia
e vai treinar teu violoncelo!

Pois conta a lenda de Egeskov
sobre algo podre na comarca...
Se for assim, então me prove!

- bradou o herói ao tio monarca -
pois sei que há algo que comove
no reino hostil da Dinamarca!

Gilberto de Almeida

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O amor, quando se revela

(Fernando Pessoa)

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...


a opala

(Christiana Nóvoa)

nem toda gema
é clara

nem toda pedra
rara
se vê de cara
sob o pó

há que ter pá
e ciência
pra polir

problema

até luzir
poema

vejam também no site da autora:
http://www.novoaemfolha.com/2012/08/a-opala.html

Amor, sereno amor

O amor que enxergo em meu delírio
é melhor que a solidão...

Mas vejam que a solidão é, talvez, insuperável
quando aspiramos a paz de espírito
e a serenidade!

Gilberto de Almeida
17/08/2012

Late-sapo

Bate-
papo
Late-
sapo

Trate.
Trapo.
Cate.
Rapo.

Pia
caça
mia.

Chia
passa,
tia.

Gilberto de Almeida
17/08/2012


a fração

(Christiana Nóvoa)

o humano se reparte:

mulheres são de marte
homens são de menos

Veja também no site da autora:
http://www.novoaemfolha.com/2012/08/a-fracao.html

Felicidade de Dentro

Felicidade de dentro,
felicidade da alma,
pois só depende de mim,
e a mim, me entende e me acalma!

Felicidade de dentro,
de dentro do coração,
invade o corpo e assume,
o controle da ilusão!

Felicidade de dentro,
que abraça e que consola,
consola o meu pensamento,
das coisas do mundo lá fora!

Felicidade de dentro
felicidade sem fim,
que está  no mundo em que eu entro,
quando me esqueço de mim!

Felicidade de dentro,
que dentro não é feliz,
mas quer pertencer ao mundo,
e é isto  que ela me diz!

Gilberto de Almeida
17/08/2012





Revoada sobre a Mesquita do Sultão Ahmed



Até a Divina Obra reconhece
se a obra humana é bela e inspirada
e sob a luz serena da alvorada
em vôo, emocionada, ela agradece.

Gilberto de Almeida
17/08/2012


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Um dia sem ti

(Clara Mantelli)

UM DIA SEM TI,
É DIA APAGADO...
SEM BRILHO,
SEM FOGO...
TE QUERO DE NOVO!




Vontade de Aprender

(Clara Mantelli)
 
 
O POETA SE EXPÕE,
SE DISPÕE,
SE DESCOBRE...
E SE HÁ ALGO DE NOBRE,
NESSE EXERCÍCIO DE SER...
É EXERCER COM HUMILDADE,
A VONTADE DE APRENDER...
 
 

Simetria

  


               simetria nenhuma, não, não é oposição     oposição não é não, nenhuma simetria
      simetria é homenagem,                           sim  sim,                          homenagem é simetria
    da esquerda                                                                                                       da esquerda
 do refletido                                                                                                              do refletido
 do escuro                                                                                                                   do escuro  
da tristeza                                                                                                                    da tristeza
da verdade                                                                                                                  da verdade
do insensato                                                                                                             do insensato
para o sensato                                                                                                        para o sensato
  para a mentira                                                                                                   para a mentira
       para a alegria                                                                                            para a alegria
             para o claro                                                                                      para o claro
              para o reflexo                                                                              para o reflexo  
                   para a direita                                                                       para a direita
                      para o reflexo                                                               para o reflexo
                              para o claro                                                      para o claro
                               para a alegria                                               para a alegria
                                  para a mentira                                        para a mentira
                                      para o sensato                                para o sensato
                                             do insensato                       do isnsensato
                                                    da verdade               da verdade
                                                        da tristeza        da tristeza
                                                           do escuro   do escutro
                                                         do refletido   do refletido
                                                        da esquerda   da esquerda
                                  simetria é homenagem, sim   sim, homenagem é simetria
                  simetria nenhuma, não, não é oposição   oposição não é não, nenhuma simetria

Gilberto de Almeida
16/08/2012