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domingo, 30 de setembro de 2012

Tábua estreita

 
O futuro espreita
enquanto eu caio e levanto
pela tábua estreita.
 
Gilberto de Almeida
30/09/2012


sábado, 29 de setembro de 2012

Cenas em um Shopping - XI

Separado, passeando sem os filhos, sem ninguém!
Pelo menos, sem ninguém que eu pudesse ver.

Mas eu estava naquela amosfera mista
de entrega à divina essência,
à devanescência
à tristeza
e à solidão.


De certo modo, penso que esse confusão mental de hoje
abriu em mim as portas
de algum lugarzinho que nós temos,
por onde se deixa entrar a beleza das coisas.

E foi por isso, acredito,
que eu pude perceber o que sempre devia estar lá,
mas eu não via:

- tinha um casal de meia idade que caminhava abraçado. Marido com expressão de serenidade, de paz, de quem não queria estar em nenhum outro lugar do mundo;

- passei por uma menina de vestido muito verde, cor de seus olhos, que sorriam com a alma, para a mãe;

- no restaurante, uma menina de uns quatro anos, dava com seu garfo, da sua própria cominda, para a irmãzinha menor;

- um casal feliz, se abraçava e se beijava na escada rolante. Depois ele deu um tapinha discreto no traseiro dela. Ops. Eu vi;

- no cinema, um sujeito se desculpava à moça da bilheteria porque havia perdido seu óculos para a projeção 3D. Ela deu uma piscadinha, e lhe deu outro;

- no supermercado, a moça empurrava o carrinho. Não. O moço, com a mão sobre a dela, empurrava junto;

- as três moças do caixa da drogaria, se divertiam tentando traduzir uma frase de amor para o inglês;

- a menina, que tomava um sorvete, de vestido cor de rosa, e um gatinho desenhado no dorso da mão, se divertia no balcão do caixa do estacionamento, enquanto o pai, sem mãe, a equilibrava, ao mesmo tempo que digitava a senha do cartão de crédito e procurava não deixar cair os pacotes de compras.

- e o local, onde, há pouco tempo, eu sentara para tomar um café, cercado de pessoas queridas, estava vazio.

Fiquei pensando como é importante e como faz bem a gente poder dar amor e carinho a quem queremos bem... Mas eu não podia!

Gilberto de Almeida
29/09/2012

A Sombra

 
Gilberto de Almeida
29/09/2012
 


A estrada



















A estrada branca.
A estrada branca, pinheiros brancos.
A estrada branca, pinheiros brancos, a neve branca.

A estrada branca, pinheiros brancos, a neve branca,
a neve branca, estrada branca, pinheiros brancos,
pinheiros brancos, a neve branca, estrada branca,
estrada branca, Pinheiros brancos, mas não me arranca

nenhum sorriso.

A pele branca.
A pele branca, os olhos brancos.
A pele branca, os olhos brancos, tulipa branca.

A pele branca, os olhos brancos, tulipa branca.  
a estrada branca, pinheiros brancos, a neve branca,
tulipa branca, os olhos brancos, a pele branca
a neve branca, pinheiros brancos, e a bela sanca

de amor conciso.

A alma branca.
A alma branca, cabelos brancos.
A alma branca, cabelos brancos, página branca.

A alma branca, cabelos brancos, página branca,
a pele branca, os olhos brancos, tulipa branca,
a estrada branca, pinheiros brancos, a neve branca,
a alma branca, cabelos brancos, já não me espanta

nenhum juízo.

Mas, e se o raio de sol se insinua por entre a sombra que escurece a neve?
Aí é show!
E é pra lá que eu vou!

A alma branda, cabelos brandos, página branda,
a pele branda, os olhos brandos, tulipa branda,
a estrada branda, pinheiros brandos, a neve branda,
a alma branda, cabelos brandos, numa ciranda

da qual preciso!

Gilberto de Almeida
29/09/2012

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Poesias da Vida - XVII

(Juliana Paula Landim)

Trodia um amigo disse
- e admiro sua franqueza -
que escrevo sem cuidado, que meu palavreado isso, que a gramática aquilo, sei lá!
Enfim, que eu precisava melhorar!

E a mesma franqueza que admiro, eu agradeço, mas
Tônemaí !
Tendeu?

Escrevi, você leu!
Pensou, entristeceu, alegreceu, ficou puto, gozou?

Então serviu!

No mais,

Tônemaí !
Tendeu?

Médico, o que fazes?

(Vicente Galeano)

Médico, médico! O que fazes?
Que são diploma, a mente aguda,
os seguidores contumazes
e a conta bancária poupuda,
se não distrações perspicazes?
Faz mais. Sê humilde! O amor desnuda!
Com teu trabalho faz as pazes
e não mais finge: vai e ajuda!

Os dois motivos para escrever

O poeta escreve basicamente por dois motivos:
ou porque está feliz,
ou porque não está!

Mas quando está em coma, não escreve!

Gilberto de Almeida
28/09/2012

Eu, Alberto, a colina, a árvore e a capela




Era uma manhã fria de outono nos arredores de Londres.
 
Mesmo assim, decidi sair para caminhar. Vesti o sobretudo negro que não tenho, coloquei o Alberto no bolso e saímos.
 
Caminhar logo cedo pelo campo refresca o corpo - principalmente se o sobretudo é imaginário - e a alma. O ar frio da manhã lembra-me, compulsoriamente, a minha fragilidade e, assim, a beleza da paisagem, naturalmente, se amplia.
 
E - assumo - passeando com a alma embevecida pela beleza da vida, foi que avistei a colina, a árvore e a capela. Não pude deixar de me comover com a cena. Toda de vermelho, a árvore chorava suas lágrimas apaixonadas, que, de sangue, forravam o chão. Tanta tristeza por não poder entrar na capela para fazer sua oração. Por que a haviam deixado de fora?
 
- Ora - respondeu Alberto, pensando que meu desvario era uma pergunta direta - ora, meu entorpecido amigo, é que não conheces a natureza. Não sabes que as árvores estão onde estão e não querem estar em outro lugar. Elas não choram. Tampouco oram. E se orassem, sua oração não haveria de ser mais do que  o que agora vês. Não haveria de ser mais que a paciente aceitação de sua condição de perder as folhas no outono e de recuperá-las na primavera, de se cobrirem de neve no inverno e de se aquecerem no verão.
 
...

Como visse que eu não me manifestava, ousou concluir:

- E assim, não fazendo nada mais do que fazem, continuam sendo belas!  
 
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Poesias da Vida - XVI

(Juliana Paula Landim)

Hoje encontrei a pessoa mais infeliz do mundo!

Acordou cedo, com um frio terrível, não tinha água quente, metrô com problemas, pagou, desistiu, pegou duzentos e vinte e cinco ônibus, chegou atrasada, não trouxe marmita, nem dinheiro, não sabia como ia almoçar! Estava com vontade de fazer xixi, o banheiro entupido! Para completar sua infelicidade não parava de mastigá-la e regurgitar na gente!

Até esqueci do povo da Etiópia!
Até esqueci do povo da Síria!
Até esqueci dos desempregados, dos moradores de rua!
Nem lembrei dos doentes com câncer e dores incoercíveis!
Esqueci também daqueles que se afundaram no mundo das drogas e das bebidas!

Tal era o seu sofrimento!

E eu ainda mandei ela calar a boca!
Tadinha!

O amor é um recanto sereno

O amor é um recanto sereno,
de luz decorado e florido
que acolhe, que encanta e faz pleno
aquele a quem é concedido.
Gilberto de Almeida
27/09/2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cenas em um Shopping - X

Quase sempre eu aproveito
uns minutos para tomar café
na Livraria.
 
Não toda hora, não todo dia.
Não porque eu adore café,
mas porque gosto de dedicar um tempo
a não pensar!
 
E as pessoas de lá me conhecem,
por estar sempre por lá.

Tem uma moça sorridente,
que me serve o café
e cujo nome é senhorita sorriso,
pelo menos é assim que é!
 
Não sei se ela sorri sempre
ou se sorri porque sorrio para ela.
Aliás, quase todos lá sorriem,
mas tem a moça do caixa...
essa é uma novela...

 
Mas hoje eu juro que vi
- ou vi ou foi engano meu!
Como sempre, eu sorri para ela
e insípida, mas nitidamente,
o canto de seus lábios
se moveu!
 
Quem sabe essa Mona Lisa
ainda fica mais leve
e esquece a tristeza na brisa...
 
Gilberto de Almeida
26/09/2012

Preparando a primavera

 
 
Durante o outono elas choraram
as dores, em folhas caídas
e um lindo berço prepararam
para as tristes sombras da vida.
 
E já no outono, o sol que nasce
escuta esse arrependimento
e é como se o calor deitasse
a paz na vida, a um só momento.
 
Virá o inverno - isso é certeza!
- e o frio implacável da neve -
mas diz a lei da natureza
que o inverno terá que ser breve.
 
Gilberto de Almeida

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Jardim das Cerejeiras

 
 
- Quantas cerejeiras juntas
para florir minha vida
toda em pétalas de rosa?
 
- Tu sabes! Por que perguntas?
Parece até que gracejas!
Acaso quantas roseiras
achas tu que tu precisas
a fim de florir cerejas?
 
Gilberto de Almeida
25/09/2012
 


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Poesias da Vida - XV

(Juliana Paula Landim)

Foi poético.
Ah, foi sim!

Aquela faxineira trabalhara por anos na casa do Doutor Alfonso,
doutor desses orgulhosos, que pisa em todos no caminho;
que tem que pronunciar bem o "ele", para não dizer Afonso!

Ufa, que porre!

Mas era o dia de pagar o carma. Lá estava ela, a Senhora faxineira,
com a humildade de substituta,
mas autoridade de quem trocara as fraldas do Doutor,
a dizer a brados no escritório:

Que sujeira que tu deixou isso aqui, Fonsinho!

E gargalhada correu solta e comeu o "ele" do Doutor!

Em minha porta

 
Apareceste com flores
em minha porta;
despertaste os meus temores
de vida torta
e a imagem dessas dores
meu peito corta.
 
Surgiste na minha vida
vindo do nada;
reabriste uma ferida
então fechada,
mas quedei-me, sem medida,
apaixonada.
 
Apareceste com flores
em minha porta;
minha vida sem tais cores
estava morta!
- Dar-me-ei aos teus amores:
mais nada importa!
 
Gilberto de Almeida

domingo, 23 de setembro de 2012

Eu, Alberto e o sonho

Nada como uma mesa posta, no café da manhã de domingo, para estimular um bate-papo.

Alberto se sentara numa das cadeiras da sala e conversávamos sem pressa, como aliás deveria ser toda boa conversa.

Eu contava a respeito de um sonho que tivera. Havia sido um sonho muito nítido, o mais nítido de toda minha vida, com sensação, mesmo, de realidade: nesse sonho eu estava numa espécie de biblioteca, onde várias pessoas circulavam calmamente. No alto de uma escadaria, estavam duas pessoas. Eu, distraído, percebia que lá estavam essas pessoas, mas não me atentei para suas identidades.

Quando olhei detidamente para essa escadaria, percebi que a pessoa de trás era minha mãe. Sua imagem era tão nítida e verdadeira como se ainda estivesse viva. Eu, entusiasmado por reencontrá-la, pois já fazia alguns anos que eu não a via viva, gritei lá de baixo, eufórico:

- Oi, mãe!

E lembrei-me de ter pensado, durante o sonho, como quem está acordado pensaria: " - mas, você não morreu? Como posso estar falando com você?"

- Oi, filho! - Ela respondeu, e sorriu.

Contei ao Alberto que, depois que acordei, eu não havia percebido imediatamente o significado daquele sonho. Mas pouco depois, pareceu ficar claro que minha falecida mãe aparecera para mim em sonho, com um único objetivo: indicar um livro, na parte de cima de sua biblioteca particular, que gostaria que eu lesse! Pronto! Estava desvendado o mistério!

Alberto, que ouvia pacientemente, e que não concorda que as coisas tenham significado, disse apenas, com uma benevolência maior que de costume:

- Não poderia ser que amasses muito tua mãe, a ponto de sonhares com ela ainda hoje? Não poderia ser apenas isso? Apenas um sonho?

Ninguém mais disse nada até terminarmos o café. Depois me levantei, deixei o Alberto sentado por alguns instantes, fui até a biblioteca da casa de minha mãe e tomei um livro para ler, que se encontrava na parte superior esquerda da estante do meu sonho.

Gilberto de Almeida
23/09/2012


Buquê de flores

 
 


Gilberto de Almeida
23/09/2012

sábado, 22 de setembro de 2012

A voar!



















Havia aquelas ondas a produzir espuma branca
ao se quebrarem na imensidão do céu azul.

Daqui de baixo,
estatelado na espreguiçadeira,
na beira da piscina,
na beira do mar,

eu e os peixes estávamos
a voar!

Gilberto de Almeida
22/09/2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Recomeçar

(Vicente Galeano)

Começar de novo é o processo
de trabalhar da natureza!
Se tropeçamos por fraqueza,
mais força a Deus, humilde, eu peço!
Pois toda falha é luz acesa
por sobre a estrada do progresso
e a nova chance é um ato expresso
da mais divina gentileza!

Mato a cobra!

Tem político que fica fulo
com quem os não bajula:
- Mato a cobra e voto nulo!

Gilberto de Almeida
21/09/2012


Que horas são?



 


















- Que horas são? - me perguntaste:

- Cinco troncos para uma Capela!

Te quedaste triste e vago...
- Mas será que não há um atalho? Não dá pra quebrar um galho?
- Só se fores pelo lago!

Tu, que não sabias nadar, me tornaste a perguntar:
- Que horas são? - assim falaste:

- Quatro troncos para uma capela! Segue em frente que a vida é bela!

Gilberto de Almeia
21/09/2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Terra, ar, água e fogo


 
Terra, ar, água e fogo,
os quatro elementos da vida!
Não tenho esse lado de druida
que pensa que a vida é um jogo!
 
Terra, ar, água e jogo,
mas não haverá despedida!
Não tenho esse lado suicida
que pensa que a vida é fogo!
 
Gilberto de Almeida
20/09/2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Chefão Mafioso e Chefoso Mafião

Chefão Mafioso e Chefoso Mafião
eram ambos candidatos
naquela mesma eleição.

As proposta - sem me estender -
era fartar a malandragem,
a cada nova pilhagem,
com o que pudesse beber.

Mas todos sabiam dos fatos,
o que muito apavorava:
- um que tomava tudo
e matava tua família;
outro a família matava
e tudo a ti, te tomava!

E o que a tal jagunçada
do esquema vil e maroto
dizia, pra não falar muito,
era abusada ironia:
- que toda a rapaziada
tinha o direito do voto!
Mas quem não votasse, morria!

E pra quem acha que isso é pouco,
a grande loucura jazia
em ter que votar no louco
que um dia o mataria!

Gilberto de Almeida
19/09/2012

A Imensidão da Alma

(Vicente Galeano)

A nossa mente é uma janela
aberta, que se traz à palma
da mão, inquieta sentinela!
A mente, hei de limpar com calma
do pensamento que a esfacela,
da angústia, do rancor, do trauma,
e espero revelar mais bela
que a mente, a imensidão da alma.

Cenas em um Shopping - IX

















Desta vez veio o troco!

Foi um rapaz que me abordou:
- Já pegou seu brinde, professor?
(eles sempre têm uma maneira de acariciar ego da presa!)
E já me foi entregando dois exemplares de revistas.

Abordado de surpresa, eu não tinha estratégia.
Como que para fugir (ou fugindo, mesmo),
no ritmo ágil em que andava,
peguei as revistas e continuei!

Ele dizia qualquer coisa sobre eu me dirigir não sei para onde...
Enquanto meu cérebro atordoava e procurava um meio de agir,
me livrei da revista de cima para poder ver a de baixo:

- Mas aqui tem uma mulher pelada!
(eles sempre estão preparados para a sedução!)

Mas eu, como sou vacinado,
e não adoeço de sedução espúria,
resolvi fugir da brincadeira!

- Não, não quero!
E devolvi o produto! O produto...

O sujeito ficou me olhando como se tivesse visto um extra-terrestre!
Suspeito que tinha!

Gilberto de Almeida
19/09/2012

Cenas em um Shopping - VIII












- "o seu número foi sorteado para concorrer a um notebook"

O garoto passava por mim e lia para o colega, a frase que estava em seu celular.

Que bacana - pensei, agnóstico! -
O cara ganhou um sorteio
que lhe dá direito
a participar de um sorteio.

Me engana, que eu gosto!

Gilberto de Almeida
19/09/2012

Munição

O voto é um direito
num país direito.

Num país corrupto,
o voto é a munição
na arma
do bandido!

Gilberto de Almeida
19/09/2012

Direito ou Dever?


Dever ou direito?
Direito ou dever?
Se devo, é direito,
mas devo dever?

Devido é direito:
Direi te dever
os verdes direitos
do estreito dever!

Também te direi: to-
marei teu dever,
deveras, direito!

Se devo dever,
só tenho um direito:
direito de ver!

Gilberto de Almeida
19/09/2012

Vaso de Flores

 
 
Um vaso de flores
religa as coisas da vida;
devolve-lhes as cores!
 
Gilberto de Almeida
19/09/2012
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Volta à Sicília...


O martelar no casco, da marola,
o espleche-espleche - o baque do oceano -
é como sonda, o mar, o ser humano,
na imensidão que agasta e que desola.

Mas canta, ao som do vento, um rapazola
o canto de pungente desengano.
E em seu cantar sombrio, triste e profano,
transborda amor na dor que cantarola!

E, enquanto, ao navegar, se distancia,
e a proa destemida o mar rendilha,
entrega-se, alma aflita, à nostalgia

pois ama o mar, mas - mais ! - ama a família!
Por isso voz interna o desafia:
- Retorna ao teu amor! Volta a Sicília!

Gilberto de Almeida
18/09/2012


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Com Alberto, no congestionamento

O código brasileiro de trânsitro  proibe o cidadão comum de dirigir enquanto fala ao celular, mas não o proíbe não dirigir enquanto não escreve um poema ou uma prosa poética. E é isto que estou não fazendo neste exato instante: estou não dirigindo porque à minha frente os demais veículos não andam. E consequentemente, eu também não ando. Não dirijo. Na Marginal Pinheiros. Em São Paulo.

Cem metros ou mais à minha frente está a Ponte Estaiada. Imponente. Mas carente de significado.

No canteiro central da avenida, aí sim está o que eu observo. Vejo, neste inverno esquisofrênico da cidade de São Paulo, árvores de folhas verdes e árvores desfolhadas cujas silhuetas se destacam contra o tom azul acinzentado tão pacientemente pintado, nas últimas décadas, pelos escravos anônimos da indústria automobilística, entre os quais só não me incluo por que, embora preenchendo os requisitos todos para a escravidão, me falte o único necessário para o anonimato.

Mas o que interessa, neste momento, não é a servidão nem o desconhecimento: são as árvores de folhas verdes e as árvores desfolhadas. Na percepção que tenho agora, as árvores desfolhadas, a desenhar seus contornos ocres sobre o céu azul acinzentado, estão mais belas que as árvores de folhas verdes. O porquê disso é que eu não sei; é o que me desafia na busca por um significado. Até que o estalo - Ah! Divino Estalo! - torne tudo mais compreensível, tudo, por dizer assim, mais verde:

- As árvores desfolhadas são mais belas porque têm a esperança de um dia se tornarem verdes!

Mas, neste instante, Alberto, que até então sequer me fizera lembrar de sua presença na maleta, ouviu meus pensamentos e interrompeu!

- Por que insistes tanto nos significados? Por que não te conformas com a beleza que vês e inventas uma beleza que não existe? Não é suficiente que a árvore desfolhada esteja, por hora, com esses contornos que te encantam, exatamente por estar desfolhada? Não te conformas com o que vês? Que a árvore de folhas verdes, por estar com as folhas verdes, não é nem mais feliz nem mais triste, mas somente mais verde? Por que inventas valores? Quem te disse que as árvores de folhas verdes são mais felizes?

E assim foi que Alberto me despertou do estalo, sem nada me responder. E com suas perguntas todas, me fez adivinhar uma verdade que, de tão magnífica, me arrepia...

Mas cheia de significado.

Poesias da Vida - XIV

(Juliana Paula Landim)

Tem certos hábitos que devemos evitar a todo custo
- para o bem da civilização!

Aliás, tem certos hábitos que quem deve evitar a todo custo
são eles,
os exemplares testiculares da espécie!
Isso!
Exemplares testiculares,
porque é isso que parecem, a cada minuto, querer mostrar que são!

- Meu amigo, eu sei que você é um cavaleiro
das távolas redondas,
mas não precisa coçá-las na minha frente,
só para mostrar que as tem!

- Meu amigo, você pode ser um galinha,
Mas, meu caro granjeiro,
não ache que vai me impressionar
coçando os ovos!

- Meu amigo, sei que é europeu,
que veio da Bélgica, ou de Luxemburgo,
mas não precisa coçar os países de baixos,
para mostrar que veio de lá!

- Ou, meu amigo, você pode ser apenas
um reles sem educação
e, nesse caso, juro que eu gostaria de te pagar na mesma moeda,
mas nem tenho saco para isso!

Poesias da Vida - XXVII

(Juliana Paula Landim)

Sou meio surda!
Não adianta cochichar no meu ouvido!
Tem que ter volume!

Murmurando, às margens do Uraricoera


Gilberto de Almeida
17/09/2012
 
 

Silêncio

 
Gilberto de almeida
17/09/2012

Poeminha mini animalista absolutamente insignificante sobre um pequeníssimo assunto de moral zero!

Tá certo que o troço tá feio,
mas pra que deixar ficar russo, manno?

Gilberto de Almeida
17/09/2012

Pêndulo


Gilberto de Almeida
16/09/2012
 
 

Em arcos azuis



 
 

 
Gilberto de Almeida
17/09/2012
 
 

sábado, 15 de setembro de 2012

Com Alberto, num jardim de Magnólias


Não é o mais comum. Preferimos passear a pé. Mas nessa tarde eu havia alugado um carro na Carolina do Sul e passeava com Alberto na maleta. Para que ele pudesse apreciar melhor a paisagem - que ele tanto gosta - insisti para que sentasse no banco dianteiro.

Sempre passeio com tranquilidade, o que me permite admirar melhor a verdade do mundo ao meu redor. Por assim fazer é que reparei, à direita, mais perto do assento do Alberto, na existência daquele jardim singelo, mas ao mesmo tempo raro.

Estacionei e ficamos contemplando. À esquerda uma fileira de troncos nascia do chão e subia, encurvando-se por cima do caminho gramado até tocar, na outra ponta da curvatura de seus galhos, o jardim de Magnólias. Formavam-se arcos que davam à paisagem o aspecto de um túnel. Sem dúvida, um túnel de árvores e flores, uma passagem da natureza, pela natureza. Eu quase conseguia, tomado por essa beleza, vislumbrar gnomos e outros seres fantásticos andando por aquela passagem.

Assim estava eu, entretido pela imaginação e esquecido do tempo, quando Alberto (o que não é seu costume) interrompeu meu pensamento:

- O que nós vemos das cousas são as cousas. - disse ele. - Vós, místicos, que gostais de vos iludir, é que enxergais o que não há. Esses troncos são arcos, e são belos por serem troncos e por serem arcos. E as flores, por serem flores. A beleza que existe, aí está. E vós não precisais aumentá-la, como se bela não fosse.

Disse isso apenas, como se fosse tudo que eu precisasse ouvir, e calou-se.

Desconcertado, calei-me também. No dia seguinte, não levei o Alberto comigo!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

a arrebentação

e a água do mal
a ir e vir
me cansa

alquímica dança
que revolve
o meu sal

lacrimal pedra viva
que me vinga
e coagula

a saliva que solve
o meu elixir
na sua língua

Veja também no site da autora:
http://www.novoaemfolha.com/2012/09/a-arrebentacao.html

a barganha

troque sua cara
por um par
de óculos caros

troque seus dois pés
por um bom carro

troque suas tetas
por funis
de silicone

troque seus dois olhos
por fuzis
e um i-phone


Veja também no site da autora:
http://www.novoaemfolha.com/2012/09/a-barganha.html

O Pastor Amoroso - III

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas  se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.