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terça-feira, 31 de julho de 2012

What are they doing at Syria?

For God's sake, what are they doing at Syria?
Who gave them the right to end human lives?
Insane souls
of an insane system!

For God's sake, what are they doing at Syria?
What a terrible fate they impose their selves!
Insane souls,
of an insane system!

For God's sake, what are they doing at Syria? 
So many wars in human's past
nothing taught
to those insane souls,
of an insane system!

My fingers bleed,
my words bleed
the pain of each tortured heart!

For God's sake, let us help Syria
every minute
in constant praying!

Gilberto de Almeida
31/07/2012

o si bemol

(Christiana Nóvoa)

o alado alarido dos bichos da mata
dá canja num arranjo
de serenata

a língua de um anjo cá no meu ouvido
me toca um silêncio
#
lá sustenido


Veja também no site da autora:
http://www.novoaemfolha.com/2012/07/o-si-bemol.html


Que fazem na Síria?

Pelo amor de Deus, que fazem na Síria?
Quem lhes deu o direito de ceifar
vidas humanas?
Almas insanas,
de um regime insano!


Pelo amor de Deus, que fazem na Síria?
Que destino terrível se impõem!
Almas insanas,
de um regime insano!


Pelo amor de Deus, que fazem na Síria?
Tantas guerras no passado humano
nada ensinaram
às almas insanas
de um regime insano?


Meus dedos sangram,
minhas palavras sangram
a dor de cada torturado coração!


Pelo amor de Deus, ajudemos a Síria
a cada minuto
em permanente oração!


Gilberto de Almeida
31/07/2012



Cinza

(Clara Mantelli)

Cinza que te quero cinza,
Aos meus olhos, cor que encanta
Das brechas,brota teu verde
Forte e eterna esperança.

Rosa, vermelho, amarelo
Te enfeitam sempre nas ruas
Minha São Paulo,me perco
Em tuas cores,tão tuas.

Cinza tão verde-amarelo
Há quem não veja tuas cores
Trago-te forte em meu peito
Em sons,emoções,sabores...

Tem preconceito de cor
Contra teu cinza presente.
Alheio e alienado,
Quem só te vê,não te sente!


Solidariedade

(Clara Mantelli)

Fazemos parte do todo
Sem engôdo,
Somos a massa...
                  
                        Se ao acaso abraça
                        A causa do outro,
                        Acolhidos somos.


O Guardador de Rebanhos - XIII

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

Três poemas livres para um amor refletido
















I

Antes de tudo mais, se for amor que doa, que se entrega e que redime,
ou antes, se for amor que doa, que se entrega,
ou antes, se for amor que doa,
ou antes, se for amor,
ou antes, se for
amor,
será antes, sim
será antes, sim, amor,
será antes, sim, amor que doa,
será antes, sim, amor que doa, que se entrega,
será antes, sim, amor que doa, que redime, mesmo de cabeça pra baixo.

II

Amor verdadeiro é perene é verdadeiro amor.

III

Que meu amor seja água e transborde
para além de onde eu venha a imaginar
e possa matar a sede
de quem dele precisar...

Gilberto de Almeida
31/07/2012

Um alento contido

Madrugada adentro,
quimicamente desprovido,
não estou sonolento;
isto sim: atrevido!

Madrugada adentro,
já não há mais nenhum sentido;
não estou desatento,
mas eu mesmo duvido!

Madrugada adentro,
tudo que toco é resumido
a um pedaço de vento
barulhando no ouvido!

Madrugada adentro
o corpo lânguido, esquecido,
porque neste momento
não mais sou deprimido!

Gilberto de Almeida
31/07/2012





segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sem título - I

(Mário Quintana)

O amor é quando a gente mora um no outro.

Seiscentos e sessenta e seis

(Mário Quintana)

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente …


E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Por do sol através dos altos ramos















O por do sol através dos altos ramos,
pode não parecer mais
Que o por do sol através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sou Alberto Caeiro,
o que o por do sol através dos altos ramos
é, além de ser
o por do sol através dos altos ramos,
é ser algo mais
que o por do sol através dos altos ramos.

Gilberto de Almeida
30/07/2012

Horizonte Dourado















Do barranco eu estanco as paredes de branco,
essa luz que supus nos telhados azuis,
sentimento cinzento no mar turbulento,
adiado pecado, horizonte dourado.

Gilberto de Almeida
30/07/2012

domingo, 29 de julho de 2012

De camarote

















A tarde anoitece
quando o sol se despede
escondendo as luzes
por traz das nuvens.

O mar barulha iluminando o pouco de dourado que resta,
o vento se acomoda nas copas das palmeiras
num farfalhar de noite
num farfalhar tranquilo de noite.

Mas a lua,
Ah! A lua!
Assiste à beleza com que Deus presenteia os homens todo fim de tarde,
e lá do seu cantinho, sossegada, de camarote,
aprecia o espetáculo divino
e sorri!

Gilberto de Almeida
29/07/2012

Quatro haicais para uma catedral


A grande oração
do centro, começa dentro
do meu coração!

Um certo canal
- do peito até o Deus eleito -
virou catedral!

A sala da paz,
alteza e altar da beleza,
de amor se desfaz.

Em cada coluna
figura doce pintura
que a alma perfuma!

Gilberto de Almeida
29/07/2012



quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dois haicais para os Avós

Avó é aquela
Velhinha bem boazinha,
Danada de bela!

Avô é aquele
Velhinho sempre bonzinho...
Que vive na dele!




Gilberto de Almeida
26/07/2012

Consolação para o pai que perdeu um filho

(Vicente Galeano)

Querido pai em desalento
que chora o filho a quem quis bem,
mas, pela morte (anjo cruento!)
foi conduzido para o além;
oh!, pai que chora o seu rebento,
compreendo o atroz pesar que tem...
Mas, lembra, sempre, em teu tormento,
que Deus jamais olvida alguém!


Enternecer em Portofino

Eu não conheço Portofino!
Não conheço aquelas vilas serenas a beira-mar;
não conheço cada cantinho doce
que parece ser o destino
certo de quem está pronto para amar.

Eu não conheço Portofino,
mas sei que, se para lá eu fosse,
lá teria que te beijar!


Gilberto de Almeida
26/07/2012


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Baboseira de um a dez

Tive um comichão de fazer
daquele troço bem dois quisito:

- não tenho des três a, talvez,
mas se estivesse quatro va em dia
acho que cinco nseguiria,
porque seis crever e deixar escrito!

Poi sete ntarei escrever
- sem ser af oito, esta vez -
algo que i nove através
dum poema de um a dez!


Gilberto de Almeida
25/07/2010


Pensando o Bem

O "bem" do Direito
não é assim, direito, um bem,
pois se fosse
deveria pertencer a todos,
mas, por direito,
não seria de ninguém...

E se assim não for
é porque eu não entendi direito
ou então
não entendi bem!

Gilberto de Almeida
25/07/2012

A casa da gente





De repente,
não  sei a hora,
a sensação

de que a casa da gente
é onde a gente mora
no coração!

Gilberto de Almeida
25/07/2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

Contrição

(Manuel Maria Barbosa Du Bocage)

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava:
Ah! cego eu cria, ah mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana:

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos,
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus... oh Deus! Quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.


Lembrança Vazia

A pior maneira de me lembrar de uma pessoa
é por suas posses...
ou pelo local onde trabalha...
ou pela profissão que exerce...
ou pelo grupo a que pertence...
ou por sua aparência...

...

Porque isso significa
que, dessa pessoa,
não me lembro de nada.

Gilberto de Almeida
24/07/2012

Livraria


Todo dia
eu me livro.
Se eu não me livrasse,
quem me livraria?

Gilberto de Almeida
(24/07/2012)

Canção

(Cecília Meireles)

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


OS DETALHES DA VIDA

OS DETALHES DA VIDA
nada mais são
QUE OS DETALHES DA VIDA.
Se nos ocuparmos
DOS DETALHES DA VIDA
mais do que merecem
OS DETALHES DA VIDA,
então
OS DETALHES DA VIDA,
como autênticos
DETALHES DA VIDA,
deixam de ser meros
DETALHES DA VIDA
e sufocam

a vida.

Gilberto de Almeida
24/07/2012

a murucututu

(Christiana Nóvoa)

risco um esboço
insisto em rasas
garatujas

o silêncio tem asas
ouço corujas

Veja também no site da autora:
http://www.novoaemfolha.com/2012/07/a-murucututu.html

Vitral

Não vou me colorir hoje
de cores fracas, desbotadas
tênues, desgastadas e tão sérias
como se fossem desnutridas, mal pintadas...

Não vou me colorir hoje
das cores burocráticas dos papéis
tristes, rabiscadas e tão sérias:
- hoje, nada desses tons pastéis!

Não vou me colorir hoje
de cores escuras
cabisbaixas, tortuosas e tão sérias
que me impedem de fazer loucuras!!

Não vou me colorir hoje
de cores frias, escorregadias
esguias, sinuosas e tão sérias
porque já se passaram esses dias.

Sobretudo não vou me colorir hoje
de cores ímpares, nem de cores pares
de cores famosas e tão sérias,
de cores protocolares.

Eu não vou me colorir hoje
senão daquelas cores
inteiras, misteriosas, mas etéreas
que sempre coloriram meus amores!

Gilberto de Almeida
24/07/2012

Este poema participou do projeto "Aquele Poema". Clique aqui e veja.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Que Bat Bat



Gilberto de Almeida
23/07/2012




Verniz de santidade

(Vicente Galeano)

Negar à pobre alma indefesa,
a mais prosaica caridade
sob o argumento sem clareza
de que a pobreza é má vontade,
parece ardil de gente presa
ao vão sofisma a que se ade;
parece escusa da avareza
em seu verniz de santidade.

Conselho de um velho apaixonado

(Carlos Drummond de Andrade)

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino : O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR


Paisagem desolada


Na inóspita paisagem desolada
severa, rigorosa e desumana,
a extrema realidade desengana:
parece transformar o pouco em nada.

Na gélida paisagem, transmudada,
perfeita imitação siberiana,
porém, da mente exausta, ainda emana
um rasgo de coragem, desvairada;

pois mesmo no cenário mais hostil
reside, oculto, o gérmen da pujança.
Talvez, somente no ápice do frio,

enquanto o corpo treme e a dor avança,
o Espírito açoitado, mas vigil,
descubra a incrível força da esperança!

Gilberto de Almeida
23/07/2012

domingo, 22 de julho de 2012

Tempos Modernos

Fui ao Shopping
para ler de graça,
porque no jornal só leio
desgraça.

Fui ao Shopping
(na livraria)
resolver meu problema
e - quem diria? -
levei uma saraivada
de poema!

Gilberto de Almeida
22/07/2012

Espelho


Tranquilo, o lago
detalha a vida
resumida
do outro lado!

Gilberto de Almeida
22/07/2012

sábado, 21 de julho de 2012

Minha Cremação

(Rodrigo Octávio Tristão de Almeida - 21/07/2012)

Não existo mais.
Morri na quinta-feira.
Me perdi na floresta, quando
então fui devorado pelas feras.

As vísceras queimadas no ar
libertam o espírito do passado.
Os restos materiais, deixados,
abandonados, são ciclo que se refaz.

Agora que morri,
posso renascer,
tomar a vacina do esquecimento
e fazer corpo e espírito andarem juntos.

Posso ser criança, posso ser o vento
e viver o mundo. Posso mastigar a
luz da aceitação, da fé e da amplidão.

Agora, que não me lembro do passado,
sou livre outra vez. Sou puro.
Posso ser o exemplo que
espero do mundo com que sonhei.

Posso viver o presente em paz,
só porque morri e agora sou
homem mais uma vez.




Misteriosa Amizade











A amizade

é uma ternura, é um carinho, sem nenhuma explicação
é a doçura com cominho (e uma pitada de açafrão?).
Quem procura de mansinho, mas não vê melhor razão
acha a cura, encontra o ninho, dentro dalgum coração.

E um amigo,

se contudo, por ciúme, ou  por cansaço
fica mudo, no negrume e perde espaço,
de veludo, faz o urdume e tece um laço

porque tudo se resume

                     no mistério de um abraço

Gilberto de Almeida
21/07/2012


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Do Outro Lado

De baixo para cima,
num fulgor riscado
pela ponte estaiada,
a beleza mima
minha alma cardíaca,
extasiada!

A cintilar
dourados,
edifícios brilham
somente
para lembrar
que há, do outro lado,
o sol poente...

Gilberto de Almeida
20/06/2012


O Guardador de Rebanhos - XXXV

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.



Meta-soneto em redondilha menor


Quando a gente escreve
parte do que pensa,
quando alguém se atreve,
pouco lhe compensa;

tenta a escrita leve,
tenta a escrita densa,
tenta o que não deve,
sem pedir licença.

Quando, então, termina,
cada um se rende
ao que bem entende;

Eis a minha sina:
- tento ser sincero,
mas querer, não quero!

Gilberto de Almeida
20/07/2012



Amanhecer em Portofino


No amanhecer,
o vilarejo
encontra o mar
e dá-lhe um beijo.



Gilberto de Almeida
20/07/2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sinfografia











Acaba de me ocorrer uma ideia...

Mozart escreveu quatro sinfonias
que o povo batizou,
dando-lhes o nome
da cidade de estréia:
- "Linz", "Paris" e "Praga"!

Até aí dá pra entender,
mas alguém pode me dizer
onde é que "Júpiter" estreou?

Nem me ocorre.

Gilberto de Almeida
19/07/2012

o antúrio


Foto: José Eduardo Agualusa

(Christiana Nóvoa)

naturezaviva ou morta
não importa

o que é do amor
aqui se corta
aqui se planta

a beleza
põe mesa pra janta
do jeito que flor




A Bailarina

(Cecília Meireles)

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.


A carreta



Gilberto de Almeida
19/07/2012


Crepúsculo em New York

Quais formiguinhas somos,
na escuridão.

A nossa trilha pomos
na contramão

da luz que brilha. Como?
na imensidão...

Gilberto de Almeida
19/07/2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Falai de Deus com a clareza

(Cecília Meireles)
 
Falai de Deus com a clareza
da verdade e da certeza:
com um poder

de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não O entender.

Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.

Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.

Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor

à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.

Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus

que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.
 
 

Autopsicografia

(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Tenho tanto sentimento

(Fernando Pessoa, 18/09/1933) 

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.


Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.


Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


Dobre

(Fernando Pesso, 1913)

Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão


Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.


Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;


Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.


Aprendizado


Na lida urbana, certamente, surgirão
os desafios, no fluir da corredeira.
Mas a inquietude turbulenta a vida inteira
sufoca o senso indispensável da razão.

E nesse curso desvairado segue, então,
a massa urbana, entorpecida, à ribanceira.
Mas a resposta aos desafios, que requeira,
jamais consegue no rumor do turbilhão!

Porém (quem sabe?) o torvelinho da existência
possibilite singular aprendizado.
Talvez nos valha a tresloucada experiência

como aguilhão a perturbar-nos, eficaz,
e um dia o homem, mais vivido e mais cansado,
enfim perceba que é melhor viver em paz.


Gilberto de Almeida

18/07/2012, reescrito em 19/03/2019.


terça-feira, 17 de julho de 2012

Caridade

(Vicente Galeano)

A caridade, sempre atenta,
acolhe e cuida da ferida;
é como a mãe que, desnutrida,
dá ao filho o seio que amamenta;
a pele e osso, reduzida
já não tem forças (santa e benta!),
mas, mesmo enferma, ela alimenta
o alvorecer de nova vida.


Claustrofilia

Abstinência virtual
é, por fechar a janela,
sentir-se mal!

Gilberto de Almeida
17/07/2012

Natureza Viva

Existe uma flor

Vem o pássaro beija
flor
Vem outro e beija
flor
Mais um e beija
flor

A promiscuidade só existe na mente
de quem não beija
flor

Gilberto de Almeida
17/07/2012

Poema para uma Flor


Gilberto de Almeida
17/07/2012




Flores Azuis

Mais do que eu supus
a felicidade é simples:
são flores azuis.

Gilberto de Almeida
17/07/2012


segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Guardador de Rebanhos - IX

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


Poesia onde não há via - X

(Mercedes Lorenzo)



Veja também no site da autora:
http://mercedeslorenzo.com/galerias/poesia.html

Poesia onde não há via - IX

(Mercedes Lorenzo)



Veja também no site da autora:



Lápis



O poeta é um eterno apaixonado:
- se apaixona pela vida,
e por tudo que faz parte dela!
Mas o resultado dessa paixão
não é possível prever...




Hoje, por exemplo, me apaixonei por um lápis
e desandei a escrever!

Gilberto de Almeida
16/07/2012

Leveza

A leveza surge
no anseio de achar um meio,
se nada mais urge.

Gilberto de Almeida
16/07/2012


A Fé e a Esperança

(Vicente Galeano)

A angústia e o desespero hostil,
no peito, em descuidada dança,
na luta vã que não alcança
a paz, é insano desvario!
Porém, aquele que pediu
em prece (esplêndida esperança!)
encontra a fé e, ditoso, avança
a um mundo quedo e mais gentil...