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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Eu, Alberto e a Saúva















Era uma única saúva
que levava em seu ferrão
(zonza, zonzinha e cambaleando)
uma folha de árvore
do tamanho dela própria.

Eu sabia que aquele esforço

iria terminar nalguma câmara
no formigueiro
para depois recomeçar!

E a pobre da saúva
que trabalhava duro
para o benefício da sua comunidade,
não era nem mais triste,
nem mais feliz por causa disso.

Pensei, então, 
que caridade e abnegação
eram como a vida da saúva:

- levar uma folha de árvore do tamanho da gente
para o formigueiro
e não ser mais triste nem mais feliz por causa disso,
mas apenas ser.
Porque é assim que se vive
ou é assim que se deveria viver.

Mas o Alberto,
que escutava meu pensamento,
não pensou no formigueiro,
nem pensou na comunidade
e, sereno, me contou

Que a saúva não devia ser caridosa nem abnegada,
Porque Deus não fez os animais com esse tipo de sentimento ou de pensamento
De serem caridosos ou de serem abnegados,
Mas que ela carregava aquela folha sem sentir e sem pensar
E que a sua beleza era essa mesma beleza
De carregar folhas sem sentir e sem pensar
Apenas porque carregar folhas,
É isso mesmo que as formigas fazem!

E eu olhei para o Alberto
e soube que ele tinha razão,
mas que eu também tinha,
porque nesta vida tudo que nós fazemos
- humanos e saúvas -
é carregar nossos fardos;
só que nós podemos pensar e sentir
e ser caridosos e abnegados,
mas as saúvas, não;
no entanto, mesmo não podendo ser caridosos e abnegados,
muitas vezes esses pequenos insetos o são
bem mais que eu
e bem mais que nós!

Gilberto de Almeida
01/02/2013



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