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domingo, 7 de abril de 2013

Eu, Alberto e o computador

Não sei por que motivo decidi que o Alberto deveria ter um computador.

Alguns bits a menos no meu cérebro, claro, para pensar uma coisa dessas; mas o fato é que o levei à loja de eletrônicos para comprar um!

Porém o inusitado começou, bem... digamos, começou o tempo todo!

Imaginem a expressão de espanto que se apossou da fisionomia do Alberto, em pleno "Shopping Center", enquanto ele pousava aqueles olhos azuis num mundo de mármores e granitos, de vidros espelhados, elevadores panorâmicos, vitrines glamourosas e gente vestida muito além da simplicidade bucólica com que ele estava acostumado...

Quando percebeu uma senhora conversando com outra e ambas dirigindo-se a passo acelerado rumo a uma porta automática, tive que conter o Alberto, pois ele se destrambelhou em direção às duas para tentar impedir que se chocassem contra a parede de vidro!

Mais adiante foi a escada rolante que o apavorou: o pobre - que o máximo que já havia experimentado para facilitar sua costumeira locomoção pedestre - fora o uso de um carro de bois ou, raramente, uma charrete, relutou bravamente contra as minhas tentativas de convencê-lo a embarcar naquela esteira enfeitiçada e, no final, foi ele quem me convenceu a subir pelas escadas convencionais.

Creio que ele esteve em pânico durante toda sua permanência no "Shopping"! As pessoas, apressadas, pareciam não o notar, chocando-se conosco aos trambolhões. Era um acúmulo fenomenal de informação e estresse para um homem do campo, que nunca viera a São Paulo!

Quando, finalmente, chegamos à loja de eletroeletrônicos, meu amigo estava à beira do colapso! E isso só piorou! Tudo naquela loja era impressionante demais, miraculoso demais! Mas eu, sensível como um poste, e obstinado como uma mula, estava decidido a comprar o tal computador.

Aproximou-se o vendedor a falar, entre outras coisas, sobre "gigabytes", memória RAM, portas USB, "Blue Ray", "Ethernet" e "Windows". Alberto não entendeu nada, obviamente! Arriscou perguntar o que era "Windows" e eu, tentando traduzir para o Português, só piorei as coisas, pois, em parte alguma daquela máquina, o Alberto via "janelas" (peças raras naquele "Shopping", aliás, pelas quais o Alberto vinha me perguntando desde que adentráramos o pavilhão de consumo.)!

Mal compreendendo o que era o tal computador, começava o Alberto a me questionar sobre o motivo pelo qual eu desejava que ele possuísse um:

- Para você escrever sua poesia... - Retruquei, a essa altura já sem muita convicção!

Alberto fitou-me demoradamente; olhou para aquela geringonça luminosa, cheia de botões e sem nenhuma janela; encarou os olhos do vendedor, que insistia em ignorar o meu amigo...

Depois tirou um bloco de papel do bolso traseiro de sua calça, um lápis que estava no bolso da camisa, não disse uma palavra sequer e pôs-se a rabiscar. Após alguns instantes, arrancou a folha de papel em que escrevera e me entregou.

O que eu vi naquela folha de papel foi um desenho rudimentar, mas muito significativo, de uma casinha em cima dum outeiro, com duas janelas desproporcionalmente grandes. Pouco abaixo, ele escrevera:

- "poesia não precisa ser escrita."

E, se essa única frase escrita a lápis, abaixo de uma casinha de janelas grandes em cima dum outeiro, não era a mais evidente comprovação de si mesma, eu já não sei em que acredito!

Foi assim que desisti da ideia absurda de comprar um computador para o Alberto.

Foi assim, também, que entendi - por certo, erradamente - que algumas poucas coisas na vida não se deve tentar melhorar, sob o risco de ficarem piores!

Gilberto de Almeida
07/04/2013

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