Pesquisar neste blog

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Na água, as batatas


Na madrugada, nenhum movimento, nenhum ruído, nada, nada.
Nenhuma panela fora de lugar.
As bancadas brilham sob as lâmpadas fluorescentes.
O ambiente claríssimo, impecável, asséptico.
Verdadeiro paraíso culinário de aço inoxidável.

Na água, as batatas...

Não é frio, nem quente,
nem seco, nem úmido,
nem escuro.
Tem cheiro de lavanda.
Tem som de gotejar. Nenhum um ruído?
Tem som de gotejar,
sem ter som de coisa alguma.
De gotejar na água.

Na água, as batatas...

Parece que houve uma falha no espaço-tempo.
Parece até que aquela gota que cai está suspensa no ar,
eternamente prestes a se espatifar na bacia.
Mas não se espatifa.
Na bacia tem água.

Na água, as batatas...

Próximo à estante dos utensílios comuns,
paira, suspenso por qualquer energia misteriosa,
o cutelo.
Estático no ar. 
Há quantos minutos suspenso?
Foi arremessado? Atingirá o quê? Atingirá?
É uma imobilização do tempo. Nada há que compreender.
A única explicação possível está na água.

Na água, as batatas.

Gilberto de Almeida
08/07/2019




Nenhum comentário:

Postar um comentário