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sábado, 24 de novembro de 2012

Com Alberto, meio misturado, meio inteiro

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hoje eu e o Alberto nos misturamos, não sei como!
Eu sei que, de repente, eu estava a pensar como ele,
Pensando em cousas e não em coisas.
Estava a pensar como ele,
A pensar com os olhos e olfato, e o paladar, mas sem pensar.
 
E olhei pelo vão duma cerca e vi um pedaço de mundo
Que para mim era o mundo inteiro
Porque era o pedaço de mundo que eu podia ver.
E esse pedaço de mundo era um belo lago e árvores e flores e um banco vazio
Que tinha toda a grandeza e a beleza de serem um belo lago e árvores e flores e um banco vazio.
 
Como era bonito ver o mundo inteiro naquela brecha de cerca!
Como era bonito saber que o mundo inteiro cabia ali,
Porque era tudo que eu via, e meu mundo era o que eu enxergava,
Mesmo eu sabendo que para os outros era apenas um pedaço de mundo
E não o mundo inteiro.
 
Mas como não havia somente o pensamento do Alberto,
Como o meu pensamento também estava junto,
A idéia de que o pedaço de mundo que eu via
Fosse o mundo inteiro,
Mas também fosse somente o pedaço de mundo
Que eu via através de uma brecha na cerca
Me fez continuar a pensar
Com a outra metade do pensamento
que não era do Alberto, mas era minha.
 
Pensei que meia vista pudesse conter uma paisagem inteira;
que, por meia passagem, pudesse passar um camelo;
que meia dúzia era qualquer quantidade pouca, mas suficiente, e que não era seis;
que meio termo podia ser melhor que as últimas consequências;
que meia lua podia ser a lua inteira;
que meio fio não tinha nada de metade, mas era a calçada inteira;
que metade de um amor sou eu e a outra é você, mas ambos somos inteiros...
 
E aí eu fui pensando e pensando e pensando,
cada vez mais querendo entender que tudo que era meio continha algo que era inteiro
e meu pensamento foi ficando cada vez mais longe do pensamento do Alberto
e acabei por pensar num soutien meia-taça
e aí parei de pensar no que era metade
e passei a pensar no que era inteiro!
 
Gilberto de Almeida
24/11/2012
 
 
 
 

4 comentários:

  1. Meio cheio ou inteiro, o sentimento de plenitude deixado pela leitura das suas linhas é singelo e verdadeiro.
    Excelente, Gilberto!
    Perfeita lógica na contradição.

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  2. Ameiiiiiiiiiiiiii! Muito bem. Gosto da sua inspiração!

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