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sábado, 14 de abril de 2012

Psicologia de um Vencido

(Augusto dos Anjos)

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

3 comentários:

  1. Solidarizo-me contigo. Devia ser uma pessoa deprimida.

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  2. Muito bom ler o Augusto, a reflexão cabe Gilberto.

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    Respostas
    1. Que domínio tinha sobre a língua portuguesa, esse Augusto. Admiro-o muitíssimo!

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