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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Eu, Alberto, a primavera e o amor























Diariamente, saio para caminhar pouco antes das seis da manhã.
Hoje, como não o fazia há algum tempo, levei o Alberto.

Não havia nenhum motivo consciente para não o haver levado comigo antes. Apenas não o levara. Sem motivo. Esquecimento. Mas hoje lembrei.

E fomos caminhando e conversando.
Aproveitei para procurar compreender um pouco mais a respeito daquele personagem complexo.

Todos sabem que o Alberto afirma aos quatro ventos
que ele não pensa. Que seus pensamentos são o seu tato, sua visão, sua audição, seu paladar ou alguma coisa assim.

Pois foi por isso que durante a caminhada perguntei:

- Amigo, como é essa coisa de não pensar?
Outro dia mesmo, você não chegou a cavalo a Santorini?  - lembrei - E não teve que planejar a viagem? Não teve que pensar, para que pudesse conseguir concretizar seu intento de ir até lá?

Alberto, que hoje estava especialmente falador, iniciou pacientemente:

"De verdade mesmo,
(E falo dessa verdade cristalina como os dias ensolarados),
nessa mesma verdade que o sol ilumina todos os dias 
está a razão de eu não pensar.
Porque as cousas são o que são,
As cousas são como as vemos quando o sol as ilumina
E não como queremos.

A verdade é saber ver e ouvir e sentir,
Saber ver e ouvir e sentir, quando se vê, se ouve e se sente.
Saber ver e ouvir e sentir sem estar a pensar
e saber pensar sem estar a ver e ouvir e sentir.

A verdade é saber pensar apenas quando é preciso pensar.
É saber pensar quando se precisa arrear um cavalo
Para o fazer direito.

Mas não pensar sobre o vento quando galopamos,
Porque a brisa é apenas a brisa
E as cousas são o que são
E não há por quê e nem para quê.

Essa primavera pela qual passamos,
[passávamos por uma primavera naquele momento]
Por que a vês e ela é bela?

Não é importante pensar nisso.
A vês e ela é bela.
Porque é assim que as cousas da natureza são, quando se vê.
A sua beleza está em ali estarem
E em todas as cores que têm
E em todos os perfumes.

Para que ver e sentir e criar uma filosofia?
Para que pensar se as primaveras têm flores rosas ou azuis?
Para que inventar causas
E consequências?

Ora! Queres imaginar que as primaveras estão ali por algum motivo?
Queres ainda pensar
Que o universo te está a dar sinais?

A imaginação e a filosofia sobre o que não é mais do que é,
é sobre isso que não penso."

E assim, pensando eu sobre tudo aquilo em que o Alberto não pensava mas me dissera, acreditei, desacreditando.

Achei que estava compreendendo um pouco mais a respeito daquele personagem complexo mas que cabia no meu bolso.

E assim, fazendo uma espécie de heteropsicografia, acreditei, acreditando,
que mesmo sendo fruto do desvario de outro poeta,
todo poeta é um fingidor.

Gilberto de Almeida
07/12/2012

3 comentários:

  1. Gosto muito do Alberto!
    Tem uma maneira de ver e sentir que me inspira.
    Como sempre, ele me faz viajar... em pensamento.

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    Respostas
    1. Alberto está se tornando o queridinho dos meus leitores. Minha filha o adora. Muitos gostam dele! Um dia ainda vou compreender isso!

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  2. Obrigado pelo carinho, Evanir. A Deus tudo se deve. Vou, aos pouquinhos, conhecendo os blogues dos amigos que passam por aqui. Ótimo fim de semana, natal e ano novo para você!

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