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domingo, 16 de dezembro de 2012

Poema de aniversário em doze atos

(em memória ao primeiro dia nove de dezembro dos próximos cinquenta anos)

Prólogo - Despertar
 
Quando o poeta acordou no ano de seu aniversário,
logo percebeuu que estava atrasado!
O despertador (esse novo tipo de despertador que ele ainda não conhecia!)
tocara havia algum tempo. E ele ouvira. Claro!
 
Mas não se levantou de pronto.
Estava exausto!
O corpo era pesado demais para as exigências daquela passagem dos quarenta e nove para os cinquenta anos:
- Precisava emagrecer! – pensou
- Preciso me livrar desse excesso de matéria inerte
 
E, ainda vitimado pela inércia de um sono de quase cinquenta anos,
os pensamentos davam passadas lentas e pesadas
pelo território praticamente virgem de sua consciência.
 
Para que ele estava despertando hoje?
 
Se a perguntar era fácil, a responder era quase impossível!
 
Para a consagração! Consagração de quê?
Meio século de orgulho! Orgulho de quê?
De nada!
Ninguém havia dito obrigado!
 
E assim, semiadormecido, nesses derradeiros instantes em que tentava se desvencilhar
dos grilhões que ainda o acorrentavam a uma existência desprovida de propósito,
a esse entorpecido mundo de labuta cotidiana
(esse estranho mundo de sonhar em vigília)
o poeta, naquela manhã de domingo, percebeu que acordava atrasado para a vida.
 
Quando, finalmente decidiu se levantar
Era tarde demais!
 
Mas ele se levantara ou não?
Então, talvez ainda não fosse tarde demais!



Primeiro Ato - Amor em Trânsito

Dirige o pai, a vida, agora:
conduz a si, conduz a filha!
Conduz o amor que, ao lado, brilha,
O amor que o pai, sofrido, adora.

E assim dirige e vão-se embora
Em seu trajeto e a cada milha
mais perto fica a sapatilha
do palco, a casa onde ela mora!
 
E o mundo inteiro, sorridente,
bendito, plácido e correto
espera a ambos mais à frente.
 
Mas, no programa predileto
receia o pai, que não aguente,
ver tanto amor, ver tanto afeto!
 


Segundo Ato - Parêmia
 
No estacionamento,
com calma, elevando a alma,
espera o momento.
 
Agora sozinho,
serena sua vida pequena:
um redemoinho!
 
E doce parêmia
o alcança e traz a lembrança
de sua alma gêmea.
 


Terceiro Ato - Amor em Linha Reta
[Parodiando Amor de Poeta (meu mesmo)]

Que Deus brinde às mulheres, com veemência:
àquelas que, ao amarem um poeta,
expulsem-nos da vã circunferência
e os façam ver o amor em linha reta:

não por ardil, baixeza ou truculência,
mas por amar, pois só o amor completa!
O afeto que assim nasce é a evanescência
de Deus, e o amor divino é o que acarreta!

Desejará o poeta ser detento
do amor que tem, do amor de que precisa
bem mais que a liberdade: mais que o vento!

Que Deus leve à mulher amada o alento
que a afague eternamente como a brisa
e junte a seu poeta, a poetisa!



Quarto Ato - O Poeta Cantou




 

Quinto Ato - O Presente de Dosslmeyer

I

Foi quando o poeta percebeu a centelha
em todos os lugares.

Estava no sorriso,
estava no movimento,
estava no cenário,
estava na platéia,
estava em Dosslmeyer.

II

Festa de natal e a pequena Clara
encanta-se com o quebra nozes.
Os convidados dançam
com a centelha divina
e já não são bailarinos;
são mônadas possuídas
de amor celestial.

Agora trazem fogo
dos céus
para os sorrisos
e movem-se como Deus quiser.

Para alegria de todos
Deus quer mais e melhor do todos jamais quiseram.

E o poeta chora.

III

A centelha acende a vida
em cada olhar embevecido
na platéia.

IV

          Flocos de neve...
                                             Ah, flocos de neve...
A filha do poeta
                                                                     é um floco de neve...
                   Ah, flocos de neve...
                                                       Enquanto eles dançam
mais uma vez
                            o poeta chora...


V

Quando os anjos parecem anjos,
que luzes são aquelas?

VI

No reino dos doces, os árabes flautistas dançaram valsa russa com os chineses enquanto espanholas apanhavam flores.

Mas outros dizem

que as doces flautistas russas valsaram sobre as flores que os árabes colheram para as espanholas, que tinham ciúmes das chinesas.

E outros ainda disseram

que essa coisa toda era invenção da cabeça da jovem Clara,
que estava em estado de êxtase!



Sexto Ato - Dessa vez, sem shoyu

 
No almoço do poeta com a bailarina
foi servido um etéreo risoto de ternura com alcachofras.
E de sobremesa, peras com amor e vinho.
 
Nem faltou shoyu!
  


Sétimo Ato - Correria


 


Oitavo Ato: submerso

Jogou-se inteiro na banheira
depois de tanta correria:
por breve instante desistia
desse vazio da vida inteira!

Não que quisesse ou que não queira,
mas era assim que decidia:
deixou o passado sobre a pia
e uma toalha na cadeira!

E logo, entorpecido e imerso
nos sonhos, livre, e em santa paz
vagou por todo o universo...

Mas soa o alarme de Alcatraz!
E escapa-lhe pesado verso:
- Acorda! Que eu morri demais!



Nono ato: oração

I

Deus pai misericordioso,
agradeço pelas maravilhas que criastes e com as quais nem sonho,
e por haverdes semeado vossa centelha 
em todos nós.

Essas maravilhas e a centelha divina que existe em nós
são a expressão do seu amor glorioso
e, assim, me deveria bastar
e eu não vos deveria pedir mais nada,
mas da insanidade do meu egoísmo não dominado
e aflito por sua benção
vos peço:

Derramai sobre mim
uma gota da vossa misericórdia
para que eu me converta ao bem supremo! 

II

Meu senhor, Jesus Cristo,
fonte inesgotável de amor,
carpinteiro de homens e de almas,
sopro de Deus, criador da Terra e de tudo que nela habita,

sou grato pela vida e por me teres enviado teus anjos
para que chamassem a mim e a tantos outros.

Sou grato por haveres enviado a legião de espíritos do bem
que em breve farão da Terra um lar em que se praticará o amor verdadeiro
por todos os cantos.

Nada tenho nada pedir-te que já não me tenhas dado
e essas mesmas coisas que agora são o meu alento,
esses teus enviados que me guiam e amparam,
se há algo que te posso pedir
é que permitas que eu seja digno
de continuar a merecer a atenção maravilhosa
de teus enviados!

III

Meu mentor espiritual, meu amigo, meus amigos,
que aqui estão comigo e têm estado há tanto tempo,
que não desistiram de mim,
mesmo quando eu dei todos os sinais de que não merecia sua dedicação,
como posso não os amar do fundo do meu coração e da minha alma?

Ah! Como eu os agradeço por me haverem inspirado desde muito
a praticar as mudanças que venho, com sua ajuda, operando em minha vida!

Como eu os agradeço por não me haverem dado tudo que peço em minhas orações,
porque no momento errado, mais me fariam mal do que bem.

Como eu os agradeço por me darem o que eu preciso, mais do que o aquilo que eu peço!
E assim fazendo, por ajudarem a seguir o melhor caminho.

Que pai trataria um filho com tanta sabedoria e bondade quanto vocês me têm tratado?
Meus amigos eu os amo e os agradeço do âmago da minha alma,
pois sem vocês esta existência estaria perdida
e agora tenho a oportunidade de aproveitá-la.

E eu lhes peço, com a audácia de um amigo que pede a outro,
que, por favor, não me desamparem,
que continuem acreditando em mim, embora eu não o mereça,
que continuem me dando bons conselhos, me desviando dos maus pensamentos e,
que acima de tudo, me ajudem a ser menos egoísta e menos orgulhoso
para que o restante possa acontecer.

IV

Mãe,

Se eu não a agradecesse aqui, seria um filho abominável!
Sei que tem visto meus erros e meus acertos e, com a enormidade do seu coração,
tem suportado minha ingratidão há anos,
tem me perdoado
e tem querido o meu bem.

Peço o seu perdão
por toda vez em que você me quiz dizer o que já sabia
e eu fui surdo!

Agora pago o preço de iniciar a jornada
que já poderia estar trilhando.

Mãe,

Todo o meu carinho, todo o meu amor, toda minha gratidão
e a intenção sincera de percorrer o caminho até onde você está
são a compensação pequena que lhe posso dar por enquanto.

Quando eu aí chegar,
todo esse amor
me colocará de joelhos
a seus pés.



Décimo ato - Jota Gê

O amor de filho me atravessa a alma,
e espera, em breve, reencontrar, mais leve,
o amor de pai, que tranquiliza e acalma.
 


Décimo Primeiro ato - Afeto

Que bom que existe o telefone celular, a internet, o telefone comum;
Que bom que existe a casa da gente e o carteiro sabe onde o poeta mora;

E alguém inventou a Guitarra Elétrica e o violão e que bom que há quem toque;
E Deus criou o homem e a mulher e que bom que lhes deu a voz e o canto;
E também inventaram a saudade e também o reencontro. Que bom!

Que bom que inventaram o sanduíche de metro sem carne para um poeta pobre poder comemorar a intenção de ser melhor, sem ter que matar animal algum;
Que bom que inventaram o bolo de aniversário e pessoas que insistem em dar parabéns a quem não merece;

Que bom que existem pessoas que se reunem, num ritual de amizade, apenas pelo afeto e pela paz!

Que bom que o poeta percebeu
que tanto pensamento amoroso combinado
é capaz de fazer um ser humano
levitar!

 

Décimo Segundo ato - Desígnios


Quando a madrugada começa
as almas confraternizam
em sonhos ou realidade,
mas qual é qual?

Quando a madrugada começa
as almas que aqui se encontram
são uma gêmea da outra,
mas qual é qual?

Quando a madrugada começa
as almas sempre especulam
sobre o que é certo e o que é errado,
mas qual é qual?

Quando a madrugada começa
as almas sabem que a vida,
redigida sem rasuras,
É tal e qual!

Quando a madrugada começa
A luz do dia ainda é sonho
e a noite já nada faz
de mal... Que tal?

Gilberto de Almeida
16/12/2012

 

4 comentários:

  1. Um belo Auto de Natal na sequência de propostas e agradecimentos através de
    uma introspecção de sentimentos.
    boas Festas!

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  2. Prezado escritor Gilberto de Almeida, você autoriza a publicação da imagem do ato quatro no evento da minha fan page Escrevo com Música. Se puder dar uma olhada agradeço https://www.facebook.com/events/868792943181100/
    Claro que os créditos serão mencionados. No aguardo e obrigada. RENATA SILVA

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    1. Claro que autorizo, Renata. É motivo de alegria! Obrigado por escolher esse poema, tão especial para mim.

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